Com os pés fincados nessa areia quente surge a curiosidade: como tudo começou? Quem por aqui passa não consegue ficar indiferente a tanta beleza e magia.
Assim, impregnados por esse calor que paira no ar e anima nossas mentes a pesquisa.
Convidamos todos a viajarem pela história da Vila de Itaúnas; descobrindo no passado a magia, a beleza e os fatos que causaram o soterramento da Vila, hoje patrimônio histórico e ecológico de infinita beleza.
Em meios a lendas e contos, muito ao longe, perdidos no fim do norte do Espírito Santo, existe um povoado de pessoas simples; caboclos trabalhadores, que espantados e entristecidos vêem morrer
uma quase cidade.
Alguns anos se passaram…Hoje os que vão lá, impressionados ficam com tamanha beleza e se deslumbram com o espetáculo que a natureza proporciona. Devagarzinho, vão contemplando, conhecendo as pessoas e ouvindo histórias, fazendo renascer a Vila de Itaúnas.
Era um povoado próspero, de intenso comércio, apesar de difícil acesso terrestre. O rio que o margeava era de largura mediana e de águas escuras, chamava-se Itaúnas (palavra de origem indígena), o nome que deu origem à Vila, em virtude de pedras pretas que haviam em seu leito.
O povo que lá vivia criava porcos em quantidade. Para alimentá-los, a mandioca era o alimento principal, que por sua vez, era matéria-prima da farinha saborosa, tão apreciada pelos baianos e por todos os que possuem paladar mais rústico, ao mesmo tempo apurado. Costume indígena, lidar com a mandioca para esse povo era comum, pois em seu passado genético, corre nas veias o sangue dos índios que brotaram da nossa terra Brasil e dos negros sofridos que pra cá foram trazidos.
Auxiliando o comércio dessa vila, tinha também a pitoresca passagem da madeira,que amarrada umas as outras, em balsas de até 300m, escorregavam pelo rio afora, desde o Império em Pedro Canário, guiadas pelos balseiros até chegar ao Paiol em Conceição da Barra.
Madeira essa que sabem muitos, fruto do desmatamento indiscriminado que assolava o norte do Espírito Santo. Para muitos, fontes de riqueza rápida, para outros que agora vivem lá, fonte de miséria e sofrimento derivado da seca, causada pelas chuvas escassas e mal distribuídas ao longo do ano.
Entre esses encontravam-se os irmãos Reuter que por desconhecimento das conseqüências, tinham na madeira a única fonte de renda. Através deles pode-se confirmar e acrescentar dados a essa história, tentando entender como tudo acontecera.
A madeira de primeira vinha em caminhões, as outras, menos nobres pra época, desciam rio abaixo, barateando o custo do transporte. Parte da madeira ia para o Rio através de navio, outra parte era comprada pela família Donato, proprietária da CIMBARRA.
Assim, a riqueza da mata gerou o desmatamento, mas também o desenvolvimento da região. Tudo isso confirmado por arquivo da família e depoimentos colhidos.
O Rio Itaúnas que a tantos servia, era para o povo da vila o principal acesso e por ele se dava o transporte principal. Por suas águas escuras, desciam canoas abarrotadas de sacos de farinha, toras de gigantescas madeiras e pessoas que desse intercâmbio viviam.
Levadas até o paiol e de lá conduzidas até o porto de Conceição da Barra, onde os navios aguardavam ansiosos a preciosa mercadoria que para o Rio de Janeiro seria levada. Assim se dava parte do comércio que a vila sustentava, sendo a outra parte feita por terra, cujas estradas difíceis,às vezes devido a chuvas constantes, tornavam longas as viagens de ida e volta.
Pequenos comércios do interior como a antiga Montanha, na época, comércio da Palha e outros mais, viviam desse intercâmbio, onde mercadorias eram trazidas e trocadas pela farinha, pelo porco e pela laranja que Itaúnas produzia em abundância.
Localizados próximo ao mar por um lado, e pelo Rio Itaúnas por outro, a vila possuía uma faixa de mata, vegetação natural, que a protegia dos ventos nordeste e sudeste que com violência sopravam vindo do mar. Até hoje não se sabe o motivo certo do desaparecimento da mata, dizem que um político local mandou tirá-la, e em troca de contos de réis, o povo da vila a tudo derrubou, queimando o que restou, deixando no solo a areia seca que por baixo da vegetação se escondia. Triste foi o fim da mata tão bela e protetora. Restou a saudade que em muitos se transformou em fantasias contadas até hoje. Outros dizem que foi cheiro de cocô que na mata se espalhava por falta de banheiro na vila. Acreditem se quiser, e tem mais. Falam alguns que o povo queria ver o mar sem precisar andar, e por causa da preguiça, perderam até a casa. E ainda há aqueles que acreditam ser culpa de São Brás que da igreja foi tirado, deixado em seu lugar São Sebastião , e a praga maldita, que a vila ia ser soterrada. Mas a história não para por ai, tem a lenda dos macacos, que dizem terem sido banidos da vila pelos pescadores e suas famílias e que juraram vingar-se e fazer com que seus moradores também de lá fossem expulsos. Por mais incrível que pareça até um monstro foi criado, e dizem que fica escondido num buraco na praia, atrai barcos de todos os tamanhos e tipos, hipnotiza tripulantes, passageiros e a todos devora sem piedade.
A natureza cobra caro do homem que dela abusa e consome indiscriminadamente. A areia insistentemente bateu á porta daquele povo assustado, fazendo com que um a um, fosse dali se retirando.
Deixando pra trás apenas alguns sinais da sua estada, carregavam o que podiam, até mesmo as telhas de suas casas.
Dessa corrida contra o tempo e a areia surgiu uma nova vila do outro lado do rio, nas terras do senhor Teófilo Cabral da Silva, que pela prefeitura foram compradas. Aos poucos, Itaúnas foi sendo reconstruída, onde ainda hoje encontramos alguns moradores da antiga vila costumes passados de pai para filho; uma religiosidade pura, a qual perdura nas manifestações folclórico-religiosas, como o Ticumbi e a festa de São Sebastião; comidas tradicionais, como a gostosa moqueca capixaba; a simplicidade de um povo que se traduz na sua despretensiosa forma de viver e muito mais.